quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Conto infantil

Ofereço

Para minhas filhas, meus netosbisnetos,
ouvintes atentos de mi
nhas histórias. E a você ilustre desconhecido.


 
 
Isto foi escrito para meu neto durante a ditadura, mas é muito atual!



PEÇA TEATRAL

A Macacada Unida
Jamais será Vencida



PEÇA MUSICAL INFANTIL EM 3 ATOS

 

PERSONAGENS:

PIMPAEL: macaquinho listado de verde e amarelo, vestido de malha e jardineira branca. Máscara de macaco com olhos grandes bem abertos.

LAVRADORES: grupo de macacos com malhas verdes, vestidos com lavradores, chapéu de palha com máscara de macaco com olhos abertos e, em cima dos mesmos, olhos fechados, um adesivo fácil de remover. Todos com enxadas nas mãos. Um deles com roupa diferenciada como patrão, chapéu diferente.

OPERÁRIOS: grupo de macacos com máscara idêntica aos lavradores, bonés e vestidos como operários, com ferramentas nas mãos.

PATRÃO DOS OPERÁRIOS: máscara idêntica, gravata.

ENGENHEIRO: máscara idêntica, óculos, temo e gravata, rolos de plantas nas mãos.

MÃE DE PIMPAEL: máscara idêntica, vestido de chita.

PAI DE PIMPAEL: máscara idêntica, roupa de lavrador.

DEMOCRACIA: mulher jovem, vestida em gaze prata e azul, esvoaçante, como fada velada.

REI: macaco verde com faixa de coroa e manto, olhos bem abertos.

DAMAS DA CORTE: macacas com olhos abertos, cílios cumpridos, batom, vestidos amplos, joias, fitas.

MINISTROS, BAROES, DEPUTADOS: macacos com olhos abertos, casaca e cartola.

PAPAGAIO: bando.

ARARAS: duas.

PICA-PAU: dois.

TARTARUGA: uma.

SOLDADOS: grupo de macacos com olhos fechados (adesivo de olhos abertos) de fardas, boné de soldado.

CAPITÃO DOS SOLDADOS: macaco com olhos fechados (adesivo de olhos abertos), de farda e quepe.

Teatro escuro - Cortina abaixada - Luzes de holofotes dançando.
TEMA MUSICAL.

VOZ: Um, dois, três

Vou contar, era uma vez ...

Um planeta todo azul, parecido com a terra,
Tinha norte, tinha sul, tinha paz e tinha guerra
.
Tinha povo e tinha rei, que fazia toda lei.

E, as vezes, era ajudado, por barões e deputados.
Um, dois, três,
Vou contar, era uma vez ...
Uma gente diferente,

Que ao rei obedecia
E a lei dele seguia.
Sabem o que a lei dizia?
Produzir e trabalhar

Para os impostos pagar.

Não descansar. Não parar. Não reclamar.
 
Um, dois, três,
Vou contar era uma vez ...

A estória diferente

De um menino-macaquinho
Muito esperto e tão valente!
Lutou muito o danadinho
Ma
s no fim foi para vencer
Aj
udou seu povo, cansado,
Que trabalhava até morrer
 
Para o rei, o rei safado,
Seus ministros, deputados,
Seus barões e seus soldados.  

Este povo, esta gente,
Que não vivia contente.
Que sem parar trabalhava
Para sustentar os malvados
Nascia com um defeito!
Coitados! Não tinha jeito!
Os olhos meio fechados
Quase nada enxergavam
Só apenas os malvados
Tudo viam, tudo olhavam.  

Um, dois, três,
Vou contar, era uma vez ...  

A estória de um lugar.
Onde macaco era gente.
Não disse que eu ia contar
Uma estória diferente?
 

PRIMEIRO ATO



ATO 1 - Palco com 2 cenários divididos ao meio. Cenário 1 iluminado, cenário 2 apagado com personagens imóveis.

CENA 1 - Cenário: uma plantação de bananas. Lavradores com enxadas trabalhando. Num canto, pilha de bananas. Trabalham vagarosamente. Patrão entra, olha para os trabalhadores.

PATRÃO - (gritando para os lavradores)

Não dá! Assim não aguento! Mais impostos a pagar!
Mal se ganha pro sustento!
Quando isto vai parar? (vira para a plateia)
E olha, gente, sou dono
De toda esta plantação.
De noite, nem tenho sono,
E pensem, sou o patrão!
Por isso, não passo fome
E minha família também,
Mas o trabalhador não come
Vive com uma banana
Que dura toda semana.

Toda nossa produção
A minha e de meus companheiros,
Vão pros donos da nação
E pros bolsos dos banqueiros
Para os amigos do rei
Pros fabricantes da lei
Para todos os safados,
Pros barões, deputados.
Assim não dá! Que vou fazer?
 

MÚSICA - tema musical sertanejo - bale dos lavradores com enxadas.
Patrão sai - fundo musical baixo. Lavradores formam semicírculo no fundo.

LAVRADOR 1: (na frente)
Assim não dá
Que vou fazer?

É esperar o dia de morrer. (volta para o seu lugar no semicírculo).

CORO - É esperar o dia de morrer.
LAVRADOR 2: (na frente)
Trabalhamos, trabalhamos
Para a todos dar comida,

Não ganhamos, não ganhamos,
Pra tocar a nossa vida.
Nossos filhos passam fome,
Morrem cedo, pequeninos,
Alguns crescem, ficam homens.
A maioria dos meninos
Não tem escola pra ir
Há! Há! Há! Dá vontade até de rir!
o rei mandou decretar
Que uma banana vai dar
A toda criança pobre
Enquanto o filho do nobre
Cujos pais mandam na gente Com todos os seus parentes
Nada precisam ganhar

Pois tem comida sobrando
Estão todos estudando ...
Até o nosso patrão
Também vive apertado
Deve sempre um dinheirão
Não pode pagar, coitado!

Volta para o lugar no semicírculo, aumenta o som do fundo musical, o semicírculo se desmancha. Todos voltam ao trabalho, luz vai diminuindo, sem idem até apagar-se totalmente.

CENA 2 - Enquanto a luz da cena 1 se apaga vai se acendendo a outra metade do palco, maquinários, cenário caracterizando uma fábrica, operários trabalhando com ferramentas nas mãos. No cenário 1 lavradores vão saindo no escuro. Um a um em silêncio.
Operários param de trabalhar e formam um semicírculo
.
Tema musical urbano popular.

CORO: Fabricamos, fabricamos
Trabalhamos, trabalhamos
,
Roupas, fogões,
geladeiras
Canos, vidros e torneiras
Lindos luxuosos
móveis
E velozes automóveis.
OPERÁRIO 1: (na frente) Vestimos farrapos
OPERÁRIO 2: (na frente) Moramos em barracos
OPERÁRIO 3: (na frente) Andamos a pé

OPERÁRIO 4: (na frente) Não temos sapatos.
Voltam aos seus lugares.
CORO: (dos 4 operários)
To
da greve que fazemos
Para a vida melhorar
Nós sozinhos que s
ofremos
Pros políticos ganhar
Entra o engenheiro. Fundo musical baixo.

ENGENHEIRO: (zangado para a plateia)
Estudei a vida inteira
E aqui vim trabalhar
Do meu salário suado
Metade o rei vai levar,
Pra dividir com ministro
Com barão e deputado
 
Pra dar banana pro pobre
Tapando o sol com a peneira.

O pobre, com os olhos fechados,
Não vê toda a bandalheira.

Dá banana pra criança (Patrão entra e fica ouvindo atento)
Pensando que encheu a pança
O povo, coitado, não vê,
Que os que banana vão dar,
Mamam, mamam, sem parar
Desde que eu era menino,
Assinzinho, pequenino,
Nos pobres trabalhadores,
Engenheiros, professores,
Comerciante e lavradores. 
 
Não se deve o peixe dar
Mas ensinar a pescar.
Quando o rei faz caridade
É pra es
conder a verdade.
A macacada mandona

Do poder não vai largar
Estão lá há tanto tempo
Não vão deixar de mamar.
Muda rei, muda o sistema,
O povo vai trabalhar

Pro governo sustentar.  

Coreografia com tema musical. Patrão pula na frente e faz sinal para tudo parar. Ficam imóveis e a música para.
PATRÃO: (gritando nervoso)
Vamos todos trabalhar
Tenho impostos a pagar.
Eu não posso é falir
Vocês não tem onde ir.
Não sou banqueiro safado
Que pretende governar
,
Não sou político amado
E não vivo sustentado
Por forças ocultas, escondido.
Vivo junto com você ... com você e com você ...  

Todos os operários olhando para o patrão. 

PATRÃO: (enquanto fala operário fazem gestos de nada entenderem)
O dinheiro que eu ganho

Pago AO, IOCB

IQU, AIDC

OAR, KIQ

O leão, não sei mais que
Vamos deixar de
folguedo
Para evitar desemprego.
Operários fazem gesto de entender e voltam ao trabalho com tema musical ao fundo. Palco vai escurecendo e se apagando devagar.
CENA 3 - mesmo cenário dos lavradores com um banco. É noite, luz, estrelas, 2 macacos
lavradores e 2 operários escondidos no fundo, imóveis. Mã
e de Pimpael e pai
de Pimpael conversam.

MÃE DE PIMPAEL: Meu marido, meu marido,
Precisamos resolver

Não mais podemos esconder
Pimpael, nosso querido.

PAI DE PIMPAEL: Ele nasceu diferente
Com os olhos arregalados

Pode ver melhor que a gente
Nasceu privilegiado.

MÃE: (suspirando)

Porque será que o bom Deus
Nos mandou este
filhinho?
Os olhos não são os meus,

O pelo tão listadinho.
PAI DE PIMPAEL: Algum motivo divino
Pois sendo nosso Senhor

Dono do nosso destino

Só pode ser por amor.
Quem sabe o nosso filhinho
Por ter os olhos abertos
Pode ensinar nossa gente
A ser feliz e contente?
Tema musical baixinho vai aumentando.  

Mãe: (cantando)
Meu filhinho Pimpael
Meu lindo macaquinho
Que estamos a esconder  

Você tem todo o direito  

De viver e conviver,  

(Mesmo não sendo perfeito)
Com o povo, nossa gente,
Mesmo tendo que sofrer
Trabalhar até morre.
Vá buscá-la, meu marido.
(O papai macaco sai)
Vem macaquinho querido
Vem ver as estrelas, o céu,
Os passarinhos, as plantinhas
Vamos tirar o véu
Que cobre a sua carinha
E o seu pêlo tão fofinho
Todo, todo listradinho.  

(O pai macaco volta com o menino-macaquinho todo coberto com um véu)

PIMPAEL: (assustado)

Mamãe, mamãezinha

Onde estou? No porão?
Por que eu vivo sozinho
Só vejo o papaizinho

E você? Por quê? Por quê?
Mãe retira o véu. Pimpael assustado olha tudo com curiosidade e os macacos escondidos vão se mostrando, vagarosamente rodeando a família.

PIMPAEL: (alegre)

Como aqui fora é bonito!
Escuro como o porão
Tudo parece esquisito
Não terei mais solidão?
Agora terei amiguinhos?
Gente grande e pequeninha?
Cadê os companheiros,
Os meninos, as meninas?
Quero brincar

Quero falar
Trabalhar
E conversar
Saber tudo que não sei.
MACACO 1: (chegando mais perto ainda, gritando)
Pra poder mudar a lei

Que vai todos ajudar.

Com estes olhos bem abertos,
Nós todos seremos libertos.
 

MACACO 2: (gritando)
Pimpael,
esta criança
Nos traz muita espera
nça
Com fé, fé, no coraçã
o
Teremos banana e pão

CORO: (de todos bem alto)
A macac
ada unida
Jamais será vencida                                                   BIS
 

Macacos lavradores e operários vão para o fundo. Música ao fundo, tema para
Pimpael.
 

Mãe: É noite, não tenha medo
Olha as estrelas no cé
u
Mas amanhã logo ce
do
Virá o dia,
Pimpael.
O sol,
no céu, vai brilhar
E vai tudo iluminar
E tenho certeza,
querido
De tudo v
ocê vai gostar.
Com seus olhos arrega
lados
Tudo você v
ai olhar
Vai entender os ma
lvados
Será um grande macaco
Sincero, honesto, educado.
 

PIMPAEL: Quem são os malvados, mamãe?
Quem são os malvados, papai?
PAI: São todos os que abusam
Procurando no desunir

Com dureza eles nos usam
Para nós todos ferir

Estamos tão amarrados!
Somos uns pobres coitados!
Andamos com olhos fechados!

PIMP AEL: (entusiasmado)

Pois que saiba a macacada
Que mes
mo sem uma espada
Poderei ser bem esperto

Pois os olhos tenho abertos.
Procurarei ver por que

Tudo isto acontece

Por que o povo não vê
Por que sempre esmorece. 
 

CENA 4: Cenário palaciano  

Damas com vestidos deslumbrantes, joias, fitas nos rabos. Música minueto, Balé dos nobres, conversam em grupos, damas ao fundo cochichando. O Rei vem com ministros e deputados para frente do palco e a música fica de fundo. 

 

REI: Não temos problemas
O povo está cego,
Infeliz, eu não nego,
Mas rir é nosso lema. 
 

       Todos riem alto. 
 
MINISTRO: (gritando)
E se surgir algum problema,
Mudaremos o sistema.
REI: Mas somos os donos.
Continuamos no trono
Em toda eleição
Só ganha barão.
Todos riem alto.

MINISTRO: (gritando)

E se surgir algum problema,
Mudaremos o sistema.

REI: Mas somos os donos
Continuamos no trono.
Em toda eleição

Só ganha barão.

MINISTRO 1: E se surgir problema
Mudaremos o sistema

DEPUT ADO 1: (na frente da plateia)
Há vinte anos sou votado
Pelo povão enganado!
E se houver algum problema
Mudaremos o sistema

(Mulheres se aproximam da frente.)

MULHERES: (coro)

Como nossa vida é boa
Nossos olhos são bonitos!
Levamos a vida a toa
Usando belos vestidos!

HOMENS: (coro)

Não trabalhamos
Ganhamos o tesouro
Nunca choramos

Nós temos o ouro
Comer,
dançar e rir,
Descansar e divertir
,
Só pisar sobre o tapete,
Usar casaca e colete.

 

Minueto, tema musical do rei, som alto, bale da corte.

 

CORO: Há! Há! Há!
É tão fácil, divertido
Planejar
Por a cuca a tra
balhar
Para que o pov
o sofrido
Sujo, feio,
empobrecido
Pague mais, pra sus
tentar
Nossas festas
, nossas farras
Comitivas noite e dia
E o trem da alegria
.

Leva, leva, o pacotão
Pra acabar com o povão
Com o operário e com o patrão
É uma bomba tão malvada
Forte, grande pra explodir
Todos os preços vão subir.


Mas o rei vai decretar
Q
ue a inflação vai baixar
Pra o po
v
o acreditar
E tudo continuar
.

Música de fundo, mulheres atrás cochichando, homens na frente.

DEPUTADO 1: Ilustres companheiros
Que comigo estão agora
Preciso de mais dinheiro

Do que tenho aqui nesta hora.
Proponho, nobres colegas
,
Uma curta e nova lei

Nosso salário aumentar

Pra mil vezes mais ganhar
Tirando este dinheiro

Meus nobres companheiros
Da macacada, o povão

Do operário e do patrão.
Proponho aposentadoria

A cada legislação
Que grande patifaria
O povo trabalha

A pobre gentalha!
Nos somos os autores
Da constituição!
Música alta.
CORO: Há! Há! Há!

Somos felizes
Somos bonitos
Elegante
s
Bem vestidos

Nosso trabalho é pensar

Pôr a cuca a funcionar

Pra estrepar a macacada
Cega, tonta,
atrapalhada
Que trabalha para nós,

Não sabe gritar, não tem voz
Nada enxerga, nada vê

Nada entende, nada lê



Coro
E se surgir algum problema


Mudaremos o sistema.

 

CAIO PANO

 

 

 


SEGUNDO ATO

 

CENA 1 - cenário igual o do ato 1 cena 1.

 Pimpael sentado no chão, brincando com pedrinhas. Olha para a plateia e para de
brincar.

 

PIMPAEL: Há um ano estou andando
Os olhos abertos
, espiando
O lavrador, o operário
O comerciante,
o patrão
Professor e funcionário
.
Ninguém presta atenção
São todos eles mandados
Como bois são empurrados
Sempre por um sabichão.
Acreditam em promessa
Sempre es
tão caindo nessa!
O sabichão sempre é amigo
De um' polí
tico barão
Que ganhou a eleição.
Sempre enxerga
bem melhor.
A macacada em pe
rigo
Sempre leva a pior.
Aprendi que é necessário
Saber ler e entender.

Que qualquer trabalhador

Precisa se esclarecer

Perguntar e assuntar,
Pensar e desconfiar,

Para não ser enganado
E depois ser explorado.

Na sua grande maioria,
Não acho o patrão culpado
Pois tem responsabilidade
De manter o empregado
Produzindo com vontade
Pra sustentar sua gente

Pra por o reino pra frente
Pra crescer o país.

Mas só vejo indigente!
Ninguém está bem ou feliz!

Pimpael põe a mão no queixo e fica quieto, atrás dele, silenciosamente surge a figura da Democracia, gelo seco no chão fazendo fumaça. Ela fica em frente a Pimpael.

 

PIMPAEL: (assustado)
Quem é você? De onde vem?
Você é bem diferente
De mim e de toda gente
.
Vem por mal ou vem por bem?

 

DEMOCRACIA: (sorrindo)
Não se assuste, macaquinho,
Não faço mal a ninguém
Ao contrário, só o bem.
Só você pode me ver
Pois seus olhos são abertos
Você terá o saber
Será um macaco esperto.

 

PIMPAEL: (assombrado)
Os outros não podem lhe ver?
Como pode acontecer?

 

DEMOCRACIA: Quem tem os olhos fechados
Vive na sombra, enganado.
Pensa que me conhece
Mas é sempre tapeado
Se é rico, empobrece,
Se é pobre é um coitado
Nada tem e nem terá
Sua vida é sempre má

 

PIMAPEL: O que poderei fazer
Para todos ajudar?
Para que possam, ver
E saber como votar?

 

DEMOCRACIA: Distante lá no deserto
Onde ninguém mora perto
Nenhuma casa por perto
E muita areia também
Fica o poço do saber

 

PIMPAEL: (espantado)
Poço do saber?
No deserto?
Onde ninguém mora perto?

 


 

DEMOCRARIA: Sim, no terrível deserto
Vigiado pelos soldados
Todos eles bem armados
Pra que ninguém chegue perto.

 

PIMPAEL: Soldados, quem os mandou?
É para o poço vigiar?

 

DEMOCRACIA: Pra ninguém se aproximar
São mandados pelos nobres
Os inimigos dos pobres.
Pelo rei, pelos barões
Ministros e deputados
Que mandam nestes soldados.

 

PIMPAEL: (curioso)
Porque o poço é guardado
Pelos terríveis soldados?

 

DEMOCRACIA: Por que lá dentro, no fundo,
Debaixo da água fria
Daquele poço profundo
Que é vigiado noite e dia
Repousa uma caixinha
Preciosa, valiosa
Trancada, bem fechadinha.

 

PIMPAEL: (curioso)
Pra que serve esta caixinha,
Trancada bem fechadinha
Guardada pelos soldados
Dia e noite, noite e dia?
 

Bem no fundo
De um poço profundo
E cheio de água fria?
 

DEMOCRACIA: Ela está cheia de um pó
Glorioso, milagroso
Mas só você, você só
Pode chegar até ela
Por ter cor verde-amarela
Por ter os olhos abertos
E saber o que é certo
O que é errado e decente
Ser honesto e ser valente.

 

PIMPAEL: (contente)
Prometo serei valente
Corajoso e valoroso
Embora seja menino
Muito fraco e pequenino.

 

DEMOCRACIA: Seu tamanho não importa
O que vale é enxergar
Entender e compreender
Não se deixar enganar.

 

PIMPAEL: O que eu devo fazer
Para a caixa encontrar?

 

DEMOCRACIA: Ao poço deve descer
Nas águas vai mergulhar

 

PIMPAEL: Mas eu nem sei nadar ...

 

DEMOCRACIA: Nada vai lhe acontecer
Você não vai perecer.
As águas vão se abrir
E deixar você cair
Voando e flutuando
Como uma pena levinha
Chegará até a caixinha.

 

PIMPAEL: E depois, que vou fazer
Quando a caixinha eu pegar?

 

DEMOCRACIA: Vai subir e flutuar
As águas vão separar
E para cá vai voltar.
Mas você só vai abrir
A caixa maravilhosa
Quando você conseguir
Vencer a luta horrorosa
Com os soldados do rei.

 

PIMPAEL: (desanimado)
Mas lutar também não sei.

 

DEMOCRAICA: Não se preocupe com isso
Quem tem os olhos abertos
Se defende, e, por isso,
Não será descoberto.
Saberá se esconder
E se preciso, defender
A caixinha encantada.
Muitos amigos preciosos
Lá nas matas encontrará



Serão fiéis, amorosos
Você próprio os achará.
Eles também têm sua luta
Pra seu mundo defender
E entrarão na disputa
Ajudando a vencer.

 

PIMPAEL: (animado)
Quando começo a jornada?
Que farei quando ganhar?

 

DEMOCRACIA: (sorrindo)
Vai voltar neste lugar
E meu nome vai gritar.
Só assim eu apareço
E estaremos no começo
De uma grande mudança
Feita por uma criança.

 

PIMPAEL: Qual o seu nome, rainha,
Bruxa, fada madrinha,
Pertence a corte do rei?
O seu nome ainda não sei.

 

DEMOCRACIA: Vai saber, com alegria,
Me chamam Democracia.
Ninguém me conhecem, ninguém,
Crianças e adultos também.
Fazem os poderosos
Discursos maravilhosos
Dizendo que moro aqui.
Mas aqui nunca vivi.

Tema musical de Pimpael.

 

PIMPAEL; Sou Pimpael, menino-macaquinho,                                               (cantando)
Nasci tão diferente de toda gente
Sou verde-amarelo na frente
Amarelo-verde atrás
Meu olhar arregalado
De ver tudo é capaz
Que loucura, que loucura
Vou ter uma grande aventura.

 

DEMOCRACIA: (cantando)
Muita aventura e luta
Correria e disputa
Mas no final vai vencer
É difícil, pode crer.
B atalhar até o fim
Para chegar até mim.
Vale a pena sonhar
Vale a pena lutar
Jamais esmorecer
Vencer, vencer, vencer.

 

CENA 2 - Montada no lugar do cenário da fábrica (ato 1, cena 2), mata em volta e uma
pedra no canto direito. Pimpael ao lado da pedra.

PIMPAEL: Preciso me esconder
Dos terríveis soldados
Pois querem me prender.
Já corri, fui perseguido

 

 

 

E até já fui seguido

Por malvados espiões
Mandados pelos barões
Pelo rei e por deputados
A notícia já espalhou
Que vou até o deserto
Que sou sabido e esperto
E procurando eu estou
Dia e noite, noite e dia,
A caixinha milagrosa
Pra por fim na pavorosa
E maldita mordomia
Dos poderosos safados

Dos barões e dos malvados.

(Se esconde atrás da porta e fica espiando. Entra um bando de papagaios dançando.)


Música tema dos papagaios.  

CORO: (dos papagaios)

Currupaco, currupaco, não, não somos periquitos
Papagaio não é pato

Currupaco, currupaco, papagaio é muito belo
Pena verde, pena verde,

Com pinguinhos amarelos.

Currupaco, currupaco

Nosso bico é nosso pente

Papagaio anda pra frente

Não anda de marcha-ré

Papagaio dá o pé

Papagaio dança e voa

 

 

Fala, fala, nunca cala

Currupaco, currupaco

Papagaio não é pato

Arara também não é

Arara também dá o pé

Periquito é nosso primo

O pica-pau é nosso irmão

Vamos todos dar a mão

 

(Papagaios dançam fazendo algazarra. Duas araras e um pica-pau entram e aderem a dança. Uma tartaruga fica espiando Pimpael sai de trás da pedra e salta no meio deles. A música para de repente e as aves ficam imóveis e silenciosas.)

 

PIMPAEL: Que gente legal
São da minha cor
Será que faço mal
Em pedir um favor?
Eu acho que não
Mais vale tentar
Estendo minha mão
Não pode falhar.


(Pimpael estendendo a mão para um papagaio.)

Papagaio
Currupaco
Se você tem sentimento
Peço pra me ajudar
Agora neste momento.
Você pode me informar,
Qual o caminho secreto

 

Que de perigo é repleto,
Pra eu depressa chegar
Lá no poço do deserto?
Está longe? Está perto?

 

PAPAGAIO 1: (desconfiado)
De onde você surgiu?
Caiu direto do céu?

 

PIMPAEL: Você nunca me viu.
O meu nome é Pimpael
Preciso até lá chegar
E no poço mergulhar.

 

PAPAGAIO 1: (desconfiado)
Porque? Lá é perigos
o
O local é bem guardado
Um capitão hor
roroso
Comanda muitos soldados.

 

PIMPAEL: Sou apenas mensageiro
De uma formosa dama
Preciso lá ir ligeiro.

 

PAPAGAIO 2: Uma dama? Quem é esta dama?

 

PIMPAEL: Democracia se chama.

 

PAPAGAIO 1: (para as outras aves)
Currupaco companheiros
Currupaco meus amigos
Vamos ajudar o mensageiro
A chegar no inimigo?

Vamos todos, vamos nessa
Araras e a tartaruga
Os animais da floresta
Todos vão dar ajuda
.
(Tartaruga e pica-pau chegam para a frente.)

 

TARTARUGA: (assustado)
Eu também? Sou devagar
Lerda lenta
Vou sentir?

 

PICA-PAU: Qualquer um que ajudar
Deve conosco seguir.

 

PICA-PAU: (cantando)
Pra viver com alegria
Com amor e liberdade
Teremos sabedoria
Coragem e boa vontade
Pra Dona Democracia
Poder ajudar o povo
Viver contente de novo.
Todos
nós vamos unidos
E não seremos v
encidos
Contra os soldados
do rei
Vamos mudar toda lei.
O povo vivendo bem
A mata respeitará
Os rios, os bichos também
E a natureza amará
Os malvados figurões

 

 

Deputados e ministros
Rei, soldados e barões
E os bandidos ministros

Não ligam pra natureza

E vendo o povo destruir
Não fazem leis, com certeza
Pra proteger a beleza

E os rios não poluir.

Vamos ajudar, vamos ajudar
Para o poço milagroso

O caminho vamos achar.

 

(Formam uma fila e entram e saem do palco diversas vezes com a música alta.)

 

CENA 3 - Lugar deserto. Só um poço no meio. Soldados marcham em volta do poço.

 

CAPITÃO: Virem para o lado norte
Virem para o lado sul
Com um bocado de sorte
Só veremos o céu azul.
(Soldados marchando.)

 

CORO: (música dos soldados)
Um, dois, um, dois
Feijão com arroz
Aqui é o nosso quartel
Nossa cabeça não é papel.
Somos valentes soldados do rei
Aqui estamos pra cumprir a lei

 

 

 

Fazemos parte do povo
Nós somos povo também
Mas não há nada de novo
O povo não é ninguém.

Um, dois, um, dois
Feijão com arroz
Feijão com arroz

Aqui é o nosso quartel
Nossa cabeça não é de papel.

 

(Música instrumental com luta coreografada de Pimpael e os animais que vão entrando um a um. Luta. Soldados são presos e amarrados. Pimpael se aproxima do poço e olha dentro. Vai pra frente do palco.)

 

PIMPAEL: (na frente)
Nossa! Estou com medo
De lá dentro mergulhar
Será que ainda não é cedo
Pra Dona Democracia ganhar?

 

(Pimpael faz gestos de medo, os papagaios o arrastam até o poço.)

 

CORO: (dos bichos)
Pula,
pula, pula no poço e mergulha
Acha, acha, acha a preciosa caixa                                  3 vezes

(Fazem uma roda com Pimpael no meio.)

 

BICHOS: Pula, pula, pula no poço e mergulha
Acha, acha, acha a preciosa caixa.

 

 

 

PIMPAEL: (escapando do círculo na frente do palco)
Puxa! Não sou perfeito.
Aqui cheguei. Não há jeito.
Tenho que mergulhar e a caixa encontrar.

 

(Pimpael dirige-se para o poço e pula dentro d'água que espirra para fora. Animais se sentam no chão esperando. Música de fundo, movimentam o corpo.)

 

PAPAGAIO 1: Currupaco, ele sumiu
Nosso amigo se afogou.

 

PAPAGAIO 2: Currupaco, você não viu
Que a água separou?

 

PAPAGAIO 3: Depois de se separar
A água toda voltou.

 

PAPAGAIO 1: Currupaco, nosso amigo
Está muito protegido

 

TODOS: Vamos no chão sentar
E com calma esperar.

 

(Música. Todos sentados, balançando o corpo e mexendo com as mãos, os soldados amarrados, junto com o capitão. A cabeça de Pimpael aparece no poço, e ele pula fora.)

 

PIMP AEL: Cheguei, cheguei, cheguei
A caixinha eu achei
Mas não posso·
abrir aqui.
Vamos levar com presteza
Pro lugar onde eu vi
A dama de grande beleza.

 

(Todos se levantam e rodeiam Pimpael, pulam alegres e saem em fila com Pimpael
a frente, dançando. Levam os soldados presos em fila.)

 

 

CAI O PANO

 

TERCEIRO ATO

Cenário 1: igual ao cenário ato 1, cena 1.

CENA 1: Entram em fila. Pimpael a frente, todos fazem sinal de cansaço. Sentam-se no
chão, menos Pimpael que vai para a frente.

 

PIMPAEL: (gritando)
DEMOCRACIAAAAAAAAAAAAAAAAAAA....               (ECO-ECO)

Eco forte repetindo.

 

PIMPAEL: (na frente)
Agora é só esperar

A grande senhora chegar
E ouvir com atenção

E seguir a instrução

Que ela logo vai dar.

(Democracia surge em gelo seco.)

DEMOCRACIA: (sorrindo)
Pimpael, meu macaquinho
,
Você conseguiu trazer

O milagroso pózinhol

PIMPAEL: (modesto)

Mas eu não fui sozinho ...
Tive uma gra
nde ajuda
De papagaios, araras,

E até da tartaruga.

 

 

 

DEMOCRACIA: (sorrindo)
Eu sei, todos os animais
Que desejam algo mais
Do que viver dominado
s
Pelo poder disfarçado
Dos corruptos malvados
De todos barões safados
Não negaram sua ajuda
Mesmo a lenta tartaruga.

 

PIMPAEL: (ansioso)
E agora,
posso abrir
E ver o que ela tem?
Posso descobrir
O seu segredo também?

 

DEMOCRACIA: Você pode abrir a caixa
Lá dentro tem um pózinho
Que se pa
rece com sal
Você vai andar sozinho
Acabar com todo o mal
Com ignorância e cegueira
Que durante a v
ida inteira
Dominou o pessoal.

 

PIMP AEL: Pode me ensinar senhora
Como agir, como fazer?
Quero começar agora
Ensinar o povo a ver.

 

 

 

 

DEMOCRACIA: Você vai abrir a caixa
Pegar o pó, uma pitada

Vai jogar, sem dizer nada

Nos olhos da macacada,

Gente alta, gente baixa,

Magra, gorda, não importa

Rico ou pobre, perna torta,
Perna grossa ou perna fina
Homem,
mulher ou menina
Macaquinho ou macacão

Quer ele queira, quer não.

PIMP AEL: (entusiasmado)
Começarei com os s
oldados
E seu terrível capitão

Quero vê-las bem mudados
Comendo na minha mão.

 

 

(Coreografia e música. Soldados são jogados na frente do palco ainda amarrados. São desamarrados e Pimpael joga o pó nos olhos dos soldados. Eles cambaleiam, passam a mão nos olhos e tiram o adesivo e os olhos abertos aparecem. Música de fundo.)

 

SOLDADOS: (todos)
Agora podemos
ver
Que a noss
a pobre missão
É o povo defender
Contra toda escravidão
Contra ataques de inimigos
Contra qualquer invasão
Somos povo, somos amigos
Não lutamos contra irmãos.

 

 

PIMPAEL: (entusiasmado)
Este pó eu jogarei
Nos olhos de minha gente
Para escolhermos um rei
Que pense bem diferente.

 

(Soldados saem. Todos pulam e dançam. Lavradores entram, operários entram. Todos entram e saem tirando o adesivo, depois que Pimpael joga o pó nos olhos deles. Ficam alguns no palco.)

 

CORO: (de todos)
Também queremos s
abedoria
Saber o que é a
democracia.
Agora vemos, que não queremo
s
Ser escravos dos
barões
Queremos traba
lhar
Pra nossos fi
lhos criar
Com muita dignidade
Não aceitar caridade
Cooperar com os
patrões
Mas para is
to acontecer
Só com os olhos bem aberto
s
Muita atenção e sa
ber
.E sempre muito certo
s
De quem vamos
eleger
Pra reinar neste paí
s
Fazer todo mundo feliz
.

(Música para.)

 

 

 

OPERÁRIO 1: (na frente)
Não se faz uma nação
Com assistência social
Trabalhador e patrão
Vão se livrar deste mal.

 

CENA 2 - Cenário igual ao ato 1, cena 3. Palácio, confusão geral. Música e coreografia de
desespero: Homens chegam a frente. Música para.

 

TODOS: (homens)
Que vamos fazer? Que vamos fazer?
Perdemos o poder.
Vamos ter que trabalhar
Como um macaco comum
Só sabemos é mandar
Nós não somos qualquer um.
Ai! Ai! Ai! (choro)
Como foi acontecer? Tantos anos no poder ...
Agora há um problema
E não adianta outro sistema.

 

REI: (na frente)
Ingratos! Ai! Ai! Ai! Ai! (chora)
Eu fui da pátria o pai.
Devem seus olhos fechar
Pra eu poder governar ...

 

DEPUTADO: (chorando)
E agora como serei
Eleito a décima vez?
Por certo não saberei
Como esconder outra vez

 

As bandalheiras que sei.
Se a macacada é sabida
Que farei da minha vida?

 

MINISTROS: (chorando)
Estamos perdidos
A mamata acabou
São todos sabidos
Estamos vencidos
O povo ganhou
Ah! Saudosa mordomia
Ah! Avião particular
Com a Dona Democracia
A negociata vai parar.

 

(Todos choram. Sentam-se no chão e cobrem os rostos. Operários e lavradores entram com Pimpael e Democracia na frente.)

 

DEMOCRACIA: De fato, tudo terminou
Mas tudo vai começar.
Para que eu viva no meio
De um povo sério e ordeiro
É preciso sempre ter
Os olhos abertos e ver,
O que é certo,
o que é errado
Para eleger deputado, rei, ministro, senador
Para ninguém ser senhor.
O que toda a macacada
Deve sempre saber,
É que a turma do poder
Deve ser fiscalizada.

 

 

São do povo empregados
Pois ele paga os ordenados.

 

PIMPAEL: Sou apenas um macaquinho
Mas aprendi a lição
Os adultos, os pequeninos,
Devem prestar atenção
Ter os olhos bem abertos
Procurar saber o certo
Para nunca eleger
Quem não merece o poder
.
E se eleger errado
Prestar sempre atenção
Pra não votar no malvado
Na próxima vez na eleição.
Quem ganha seu ordenado
Tirado do bolso do povo
E não cumpriu o combinado
Não é eleito de novo.
Ao trabalho não pode faltar
E é proibido roubar.
Fazer leis pra defender
Os rios, a floresta, a terra
Fazer leis pra proteger
O povo e fazer guerra
À safadeza e à ambição
Para crescer a nação

 

DEMOCRACIA: E preste o povo atenção!
Todo o direito conseguido
Corresponde a um dever
Que precisa ser cumprido
Para o direito valer.

Poderoso no chão cobrindo o rosto – Ai! Ai! Ai! Choram.

 

O PANO VAI DESCENDO

 

VOZ: Esta estória de macacos
Grandes barões, deputados
,
Rei tirano que faz leis
E os amigos do rei,
Tartaruga e
araras
Papagaios e outros
bichos
Lealdade e traição,
Cegueira e corrupção,
Pau no lombo do povão,
Pobreza para o coitado,
Riqueza em poucas
mãos,
Possa a todos ensinar
,
Uma preciosa lição
.
Especialmente a criança
Que é nossa espera
nça
Que vai crescer
e votar,
Traba
lhar e governar.
Cumpram sempre se
u dever
Pro seu direito valer.

 

PANO DESCE.

 

VOZ: Saibam todos que qualquer
Semelhança que houve
r
Com fatos, caso, pes
soas
Por maior que sej
a a evidência
É coincidência das boas.

 

MÚSICA.