As Aventuras
de um Anãozinho
sem Cor
de um Anãozinho
sem Cor
Um, dois,
três,
Vou contar
Era uma vez ...
Vou contar
Era uma vez ...
Num lugar longe, distante,
Outra galáxia, talvez,
Numa terra interessante,
Vivia contente uma gente
Pequenina, diferente.
Eu vou agora explicar
Como era aquela terra:
Todos viviam a cantar,
A trabalhar e a brincar.
Lá nunca havia guerra
Sempre paz e muito amor,
No meio de muita cor.
E...
N aquele mundo florido
Flutuando entre cores,
Entre plantas e mil flores,
Sol, calor e alegria,
Brincadeiras noite e dia,
Viviam anões coloridos,
Só duendes brincalhões,
Pequeninos homenzinhos,
Todos eles miudinhos,
Todos eles eram anões.
Uns vermelhos, outros amarelos,
Uns que vivam em casas,
Outros em belos castelos,
Os azuis que tinham asas,
Os verdes como capim,
Os marrons e os roxinhos
Os brancos e os pretinhos,
Um cor-de-rosa, lindinho,
Parecia um querubim.
Parecia um querubim.
E muito orgulho eles tinham
Cada um de sua cor
Cada um de sua cor
E da roupa que vestiam
Que combinava com ela,
Azul, verde, amarela,
Cor-de-rosa, qualquer cor.
Que combinava com ela,
Azul, verde, amarela,
Cor-de-rosa, qualquer cor.
Mas ...
Num dia muito quente,
Fazia grande calor,
Nasceu um anãozinho,
Coitado, não tinha cor.
Todos ficaram pasmados
Exclamaram admirados:
— Como pode acontecer
Que neste mundo florido
Onde tudo é colorido,
Como pode aparecer
Um anãozinho sem cor?
Será que é o calor?
Fazia grande calor,
Nasceu um anãozinho,
Coitado, não tinha cor.
Todos ficaram pasmados
Exclamaram admirados:
— Como pode acontecer
Que neste mundo florido
Onde tudo é colorido,
Como pode aparecer
Um anãozinho sem cor?
Será que é o calor?
Aconteceu logo então
Um fato desagradável
Aquela gente amável
Que viva em harmonia
Distribuindo alegria
Não quis dar o seu amor
Ao anãozinho se, cor.
Um fato desagradável
Aquela gente amável
Que viva em harmonia
Distribuindo alegria
Não quis dar o seu amor
Ao anãozinho se, cor.
E o anãozinho, coitado,
Era sempre rejeitado
Porque era diferente
Era sempre rejeitado
Porque era diferente
De toda a sua gente.
Por isso é que o coitado
Que nasceu descolorido
Como aleijado era tido.
Andava triste, calado,
Cresceu tão desprotegido,
Pensando não ser mamado ...
Que nasceu descolorido
Como aleijado era tido.
Andava triste, calado,
Cresceu tão desprotegido,
Pensando não ser mamado ...
Mas o nosso amiguinho
Era um anão valente.
Era um anão valente.
Não ficou desanimado
Mesmo sendo diferente,
Mesmo sendo diferente,
E estando bem cansado
De ser sempre rejeitado.
Um dia, então, o anãozinho
Pensou e falou baixinho:
Um dia, então, o anãozinho
Pensou e falou baixinho:
— Hoje vou falar com o rei.
Ele é bom, é justo, eu sei
Que ele pode me ajudar
Uma cor eu encontrar.
Ele é bom, é justo, eu sei
Que ele pode me ajudar
Uma cor eu encontrar.
E partiu bem decidido
Para o palácio real
Achava que o rei sabido
Ficaria condoído
Para o palácio real
Achava que o rei sabido
Ficaria condoído
Sendo sabido podia
Mesmo naquele dia
Acabar com o seu mal.
Mesmo naquele dia
Acabar com o seu mal.
O rei dos anões coloridos
Resolveria o problema
Resolveria o problema
E lhe daria uma cor,
Qualquer uma serviria
Cor de capim ou de flor,
Qualquer uma serviria
Cor de capim ou de flor,
Da clara do ovo ou da gema.
Com orgulho ele usaria
Com orgulho ele usaria
As roupas o gorro, as fivelas,
Fossem azuis ou amarelas,
Fossem marrons ou pretinhas,
Cor de ouro ou de canela,
Mesmo que fossem roxinhas.
Fossem azuis ou amarelas,
Fossem marrons ou pretinhas,
Cor de ouro ou de canela,
Mesmo que fossem roxinhas.
Mas o rei, atarantado,
Não podia resolver
Ficou tão desolado
Pois não tinha o poder
Para o anãozinho tingir.
Não podia resolver
Ficou tão desolado
Pois não tinha o poder
Para o anãozinho tingir.
— Mas não pode, majestade,
Com uma cor me cobrir?
Com sua boa vontade
Poderia eu ser pretinho
Talvez verde, até roxinho,
Uma corzinha qualquer
Com uma cor me cobrir?
Com sua boa vontade
Poderia eu ser pretinho
Talvez verde, até roxinho,
Uma corzinha qualquer
A que o senhor quiser.
— Pois mais que seja o querer
Eu não tenho tal poder.
Eu não tenho tal poder.
O rei das cores, somente,
Somente ele, mais ninguém
Somente ele, mais ninguém
É que pode realmente
Todas as cores derramar
Sobre rios, campos, flores,
Sobre a terra e sobre o mar
Sobre rios, campos, flores,
Sobre a terra e sobre o mar
E sobre os anões também,
O anãozinho sem cor
Perguntou, muito choroso:
Perguntou, muito choroso:
— Onde posso, meu senhor,
Onde posso encontrar
Onde posso encontrar
Este rei tão poderoso
Para poder me curar?
O rei foi muito sincero:
— Enganar você não quero.
Para este reino encontrar
Para este reino encontrar
Você tem que atravessar
O grande lago salgado,
E a floresta tenebrosa,
E uma terra arenosa,
Terra de um sapo alado,
Maldoso e perigoso.
Maldoso e perigoso.
E lá chegando verá
Que o podo vive lá
É bastante diferente,
Pois é grande aquela gente.
O anãozinho pensou,
Olhou o rei e falou:
Olhou o rei e falou:
— Partirei amanhã cedo
mesmo com muito medo.
mesmo com muito medo.
E foi assim que o anãozinho
Feioso e descolorido
Feioso e descolorido
Partiu pra longe, sozinho,
Deixando o país florido.
Amigo, não tinha nenhum.
Deixando o país florido.
Amigo, não tinha nenhum.
Atravessou com cuidado
O grande lago salgado,
Era um lago bem comum.
A floresta tenebrosa,
Esta sim era horrorosa.
Só espinho entrelaçado
Umidade e escuridão
Nojentos e isentos no chão.
Era um lugar detestável,
Não foi nada agradável.
Umidade e escuridão
Nojentos e isentos no chão.
Era um lugar detestável,
Não foi nada agradável.
Mas o nosso amiguinho
Venceu seu medo atroz.
Foi indo devagarinho
Venceu seu medo atroz.
Foi indo devagarinho
Se escondendo, quietinho,
De todo bicho feroz,
Passando entre os insetos,
Entre cobras venenosas
Foi passando direto
De todo bicho feroz,
Passando entre os insetos,
Entre cobras venenosas
Foi passando direto
Entre coisas asquerosas
Então chegou ao deserto
Não havia nada perto.
Então chegou ao deserto
Não havia nada perto.
Bem no meio do areal
Só um feio animal.
Era sapo que voava
Só um feio animal.
Era sapo que voava
E a tudo atacava.
Teve ele muita sorte,
Teve ele muita sorte,
Sem cor, de pequeno porte,
Ficou quase invisível
Despercebido avançou
Ficou quase invisível
Despercebido avançou
O sapão não o notou
Embora fosse terrível.
Embora fosse terrível.
E, deste modo, assim,
O anãozinho passou
Sem sofrer nada de ruim.
Sem sofrer nada de ruim.
E...
Lá chegou, finalmente,
No lugar em que queria
Encontrar um rei, somente,
E receber a alegria
Encontrar um rei, somente,
E receber a alegria
De ser por ele tingido.
Mas ele viu com horror
Não havia colorido
Não havia colorido
Pois no país da cor
Toda cor tinha sumido.
Estava tudo borrado
Campos, casas, ruas, flores,
Estava tudo manchado
Com borrões amarelados
Escondendo todas as cores,
Tudo estava desbotado.
Campos, casas, ruas, flores,
Estava tudo manchado
Com borrões amarelados
Escondendo todas as cores,
Tudo estava desbotado.
Até no palácio lindo
Onde o rei de lá morava
A cor estava sumindo,
Borrada, desmilinguando ...
Borrada, desmilinguando ...
— Me Deus, onde se encontrava,
Pensou nosso amiguinho,
Pensou nosso amiguinho,
Toda a luminosidade
O colorido, o esplendor,
Daquela bela cidade
Morada do rei da cor?
Daquela bela cidade
Morada do rei da cor?
Olhou, olhou, nada viu.
Tudo estava deserto,
Borrado, feio, manchado.
Mas mesmo assim decidiu
A ir o rei procurar.
Tudo estava deserto,
Borrado, feio, manchado.
Mas mesmo assim decidiu
A ir o rei procurar.
E só o rei, por certo,
Poderia ajudar
Poderia ajudar
De algum modo, talvez,
Resolvendo, de uma vez,
A cor que iria usar.
Resolvendo, de uma vez,
A cor que iria usar.
Embora fosse grandão,
Foi o rei bem delicado.
Recebeu o anãozinho
Foi o rei bem delicado.
Recebeu o anãozinho
E disse, triste, coitado,
Palavras de muito carinho,
Ditas com muita emoção:
Palavras de muito carinho,
Ditas com muita emoção:
— Oh! Meu pequenino amigo,
Pode crer, estou sentido,
Pode crer, estou sentido,
Por não poder resolver
O que você vai querer.
Nosso país era belo,
Luminoso colorido.
Agora é tudo amarelo,
Borrado, triste, fedido.
O povo se escondeu
Toda alegria morreu
Estão todos a sofrer
E eu perdi o meu poder.
Eru era um grande senhor
Que espalhava alegria
Derramava meu amor,
Todas coisas eu tingia.
Mas um dia, por encanto,
Aqui no reino surgiu
Para nosso grande espanto
Como que do céu caiu
Uma bruxa horrorosa
Porém muito poderosa.
Carregava uma tigela
Cheia de pó mal cheiroso
De feia cor amarela
Ninguém dela teve medo
Somos da paz e do amor
Mas descobrimos bem cedo
Que ela odiaria a cor
Qualquer uma, todas elas,
Somente queria a amarela.
Foi tirando da tigela
Seu nauseabundo pó
E em tudo foi jogando
Sem ter pena, nem ter dó.
Tudo foi ela manchando
As casas, as ruas, as flores,
O povo foi se sujando,
Borradas foram as cores,
Tirou todo o meu poder
Trazendo dor e sofrer.
Nosso amiguinho chorou,
Muito triste, perguntou:
— Ninguém conseguiu deter
Esta bruxa tão malvada?
Ninguém tentou fazer
Que esta bruxa odiada
Sumisse deste lugar?
E o rei, triste, respondeu:
— Ninguém, mesmo querendo.
E todo povo sofreu
E ainda está sofrendo.
Tentamos a bruxa matar,
Tentamos com ela acabar.
A malvada não morreu
E ainda está vivendo.
Cortamos em pedacinhos
Com afiadas espadas.
Mas devagar, de mansinho,
Os pedaços da malvada
Jogados sobre a calçada,
Se mexeram e andaram,
E num todo se juntaram
Formando a bruxa atrevida
Lhe devolvendo a vida.
Já foi a bruxa queimada
Enforcada, esmagada
Mas a terrível bandida
Sempre logo volta à vida.
Assim o rei explicou
O que tinha acontecido.
E o anãozinho falou:
— Pois nem tudo está perdido.
Qual o nome da madama,
Como é que ela se chama?
— Angusão é o seu nome
pois só fubá ela come.
Seu corpo é feito de angu
Seu nariz é um chuchu.
— E onde mora a maldita?
Onde se esconde a bandida?
O rei estava espantado
Com a coragem do anãozinho
E mostrou, bem explicado,
Para o nosso amiguinho
A casa da feiticeira.
E qual a melhor maneira
De chegar na sua toca
Suja e horrível maloca.
E ...
Lá se foi nosso anão
Atrás da bruxa Angustão.
Não demorou encontrar
o fedorento lugar.
Lá, com muito cuidado,
Descobrindo, espiando.
Sendo muito miudinho,
Não foi por ela notado.
Ficou a bruxa assuntando,
Olhando, observando,
Pra resolver qual lado
Melhor para ser atacado.
Depois de muito pensar
Resolveu ele atacar.
Para o castelo voltou
Pediu ao rei dez soldados.
Não os queria armados.
E o rei o ajudou.
Os soldados carregavam
Montados em suas selas
Baldes, bacias, panelas
Que cheios d'água estavam.
Chegando bem de mansinho
Onde a bruxa se escondia
Esperaram bem quietinhos
Que se findasse o dia.
E os soldados grandões
Fortes, altos valentões
E, como por encanto,
Tudo foi se colorindo,
Os borrões foram sumindo.
Lá no palácio real
Reinava o carnaval
Todos dançavam contentes
Num instante, de repente,
Outra vez veio o esplendor
E muita luz, muita cor.
Todas as cores existentes
Brilhavam bem luminosas
Belas e resplandecentes
Na grande coroa do rei.
Depois, o dono da lei.
O rei assim decretou:
-— Este anãozinho querido,
Corajoso e valente,
Também muito inteligente,
Que tanto nos ajudou
Vai ser inteiro tingido.
Amigo pode dizer
Qual a cor que vai querer?
Pode escolher todas elas
Até mesmo a amarela ...
O anãozinho pensou
E assim ele falou:
— Quero os sapatos marrons
Como gostosos bombons.
Mas quero todas fivelas
Como ouro, amarelas.
Bem azul, da cor do céu,
Quero este meu chapéu.
Minhas meias bem listradas ...
muco ... Vermelha ... Azuladas ...
Verde quero minhas calças
Meu cinto, de cor vermelha
Brilhando como centelha ...
A camisa cor de canela
Combinando com as fivelas.
Foi assim que o anãozinho
Ganhou todos os matizes
Pois tornara o amiguinho
Todos contentes felizes.
Pediu pele cor-de-rosa
Pois achava a cor formosa
As bochechas vermelhinhas
Lustrosas e coradinhas
Os olhos da cor do céu
Os cabelos cor de mel.
E voltou pro seu país
Satisfeito e feliz.
Pra voltar foi ajudado
Pelos valentes soldados.
Por muitos perigos passou
Mas em casa, enfim, chegou.
E foi sempre muito amado,
Sempre muito admirado
Tingido de muitas cores
Do capim, do céu, das flores.
Nunca mais foi rejeitado
E viveu cheio de glória
Contando sua história.
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