sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Conto infantil



As Aventuras
de um Anãozinho
sem Cor




Um, dois, três,
Vou contar
Era uma vez ...

 

Num lugar longe, distante,

Outra galáxia, talvez,

Numa terra interessante,

Vivia contente uma gente

Pequenina, diferente.

Eu vou agora explicar

Como era aquela terra:

Todos viviam a cantar,

A trabalhar e a brincar.

Lá nunca havia guerra

Sempre paz e muito amor,

No meio de muita cor.

E...

N aquele mundo florido

Flutuando entre cores,

Entre plantas e mil flores,

Sol, calor e alegria,

Brincadeiras noite e dia,

Viviam anões coloridos,

Só duendes brincalhões,

Pequeninos homenzinhos,

 

 

Todos eles miudinhos,

Todos eles eram anões.

Uns vermelhos, outros amarelos,

Uns que vivam em casas,

Outros em belos castelos,

Os azuis que tinham asas,

Os verdes como capim,

Os marrons e os roxinhos

Os brancos e os pretinhos,

Um cor-de-rosa, lindinho,
Parecia um querubim.

E muito orgulho eles tinham
Cada um de sua cor

E da roupa que vestiam
Que combinava com ela,
Azul, verde, amarela,
Cor-de-rosa, qualquer cor.

 

Mas ...

Num dia muito quente,
Fazia grande calor,
Nasceu um anãozinho,
Coitado, não tinha cor.
Todos ficaram pasmados
Exclamaram admirados:
— Como pode acontecer
Que neste mundo florido
Onde tudo é colorido,
Como pode aparecer
Um anãozinho sem cor?
Será que é o calor?

 

Aconteceu logo então
Um fato desagradável
Aquela gente amável
Que viva em harmonia
Distribuindo alegria
Não quis dar o seu amor
Ao anãozinho se, cor.

E o anãozinho, coitado,
Era sempre rejeitado
Porque era diferente

De toda a sua gente.

 

Por isso é que o coitado
Que nasceu descolorido
Como aleijado era tido.
Andava triste, calado,
Cresceu tão desprotegido,
Pensando não ser mamado ...

 

Mas o nosso amiguinho
Era um anão valente.

Não ficou desanimado
Mesmo sendo diferente,

E estando bem cansado

De ser sempre rejeitado.
Um dia, então, o anãozinho
Pensou e falou baixinho:

— Hoje vou falar com o rei.
Ele é bom, é justo, eu sei
Que ele pode me ajudar
Uma cor eu encontrar.

 

E partiu bem decidido
Para o palácio real
Achava que o rei sabido
Ficaria condoído

Sendo sabido podia
Mesmo naquele dia
Acabar com o seu mal.

O rei dos anões coloridos
Resolveria o problema

E lhe daria uma cor,
Qualquer uma serviria
Cor de capim ou de flor,

Da clara do ovo ou da gema.
Com orgulho ele usaria

As roupas o gorro, as fivelas,
Fossem azuis ou amarelas,
Fossem marrons ou pretinhas,
Cor de ouro ou de canela,
Mesmo que fossem roxinhas.

 

Mas o rei, atarantado,
Não podia resolver
Ficou tão desolado
Pois não tinha o poder
Para o anãozinho tingir.

— Mas não pode, majestade,
Com uma cor me cobrir?
Com sua boa vontade
Poderia eu ser pretinho
Talvez verde, até roxinho,
Uma corzinha qualquer

A que o senhor quiser.

 

— Pois mais que seja o querer
Eu não tenho tal poder.

O rei das cores, somente,
Somente ele, mais ninguém

É que pode realmente

Todas as cores derramar
Sobre rios, campos, flores,
Sobre a terra e sobre o mar

E sobre os anões também,

O anãozinho sem cor
Perguntou, muito choroso:

— Onde posso, meu senhor,
Onde posso encontrar

Este rei tão poderoso

Para poder me curar?

 

O rei foi muito sincero:

— Enganar você não quero.
Para este reino encontrar

Você tem que atravessar

O grande lago salgado,

E a floresta tenebrosa,

E uma terra arenosa,

Terra de um sapo alado,
Maldoso e perigoso.

E lá chegando verá

Que o podo vive lá

É bastante diferente,

Pois é grande aquela gente.

 

O anãozinho pensou,
Olhou o rei e falou:

— Partirei amanhã cedo
mesmo com muito medo.

 

E foi assim que o anãozinho
Feioso e descolorido

Partiu pra longe, sozinho,
Deixando o país florido.
Amigo, não tinha nenhum.

Atravessou com cuidado

O grande lago salgado,

Era um lago bem comum.

A floresta tenebrosa,

Esta sim era horrorosa.

Só espinho entrelaçado
Umidade e escuridão
Nojentos e isentos no chão.
Era um lugar detestável,
Não foi nada agradável.

 

Mas o nosso amiguinho
Venceu seu medo atroz.
Foi indo devagarinho

Se escondendo, quietinho,
De todo bicho feroz,
Passando entre os insetos,
Entre cobras venenosas
Foi passando direto

Entre coisas asquerosas
Então chegou ao deserto
Não havia nada perto.

Bem no meio do areal
Só um feio animal.
Era sapo que voava

E a tudo atacava.
Teve ele muita sorte,

Sem cor, de pequeno porte,
Ficou quase invisível
Despercebido avançou

O sapão não o notou
Embora fosse terrível.

 

 

E, deste modo, assim,

O anãozinho passou
Sem sofrer nada de ruim.

E...

Lá chegou, finalmente,

No lugar em que queria
Encontrar um rei, somente,
E receber a alegria

De ser por ele tingido.

Mas ele viu com horror
Não havia colorido

Pois no país da cor

Toda cor tinha sumido.

 

Estava tudo borrado
Campos, casas, ruas, flores,
Estava tudo manchado
Com borrões amarelados
Escondendo todas as cores,
Tudo estava desbotado.

 

Até no palácio lindo

Onde o rei de lá morava

A cor estava sumindo,
Borrada, desmilinguando ...

— Me Deus, onde se encontrava,
Pensou nosso amiguinho,

Toda a luminosidade

O colorido, o esplendor,
Daquela bela cidade
Morada do rei da cor?

 

Olhou, olhou, nada viu.
Tudo estava deserto,
Borrado, feio, manchado.
Mas mesmo assim decidiu
A ir o rei procurar.

E só o rei, por certo,
Poderia ajudar

De algum modo, talvez,
Resolvendo, de uma vez,
A cor que iria usar.

 

Embora fosse grandão,
Foi o rei bem delicado.
Recebeu o anãozinho

E disse, triste, coitado,
Palavras de muito carinho,
Ditas com muita emoção:

 

— Oh! Meu pequenino amigo,
Pode crer, estou sentido,

Por não poder resolver

O que você vai querer.

Nosso país era belo,

Luminoso colorido.

Agora é tudo amarelo,

Borrado, triste, fedido.

O povo se escondeu

Toda alegria morreu

Estão todos a sofrer

E eu perdi o meu poder.

 

Eru era um grande senhor

Que espalhava alegria

Derramava meu amor,

Todas coisas eu tingia.

Mas um dia, por encanto,

Aqui no reino surgiu

Para nosso grande espanto

Como que do céu caiu

Uma bruxa horrorosa

Porém muito poderosa.

Carregava uma tigela

Cheia de pó mal cheiroso

De feia cor amarela

Ninguém dela teve medo

Somos da paz e do amor

Mas descobrimos bem cedo

Que ela odiaria a cor

Qualquer uma, todas elas,

Somente queria a amarela.

 

Foi tirando da tigela

Seu nauseabundo pó

E em tudo foi jogando

Sem ter pena, nem ter dó.

Tudo foi ela manchando

As casas, as ruas, as flores,

O povo foi se sujando,

Borradas foram as cores,

Tirou todo o meu poder

Trazendo dor e sofrer.

 

Nosso amiguinho chorou,

Muito triste, perguntou:

— Ninguém conseguiu deter

Esta bruxa tão malvada?

Ninguém tentou fazer

Que esta bruxa odiada

Sumisse deste lugar?

 

E o rei, triste, respondeu:

— Ninguém, mesmo querendo.

E todo povo sofreu

E ainda está sofrendo.

Tentamos a bruxa matar,

Tentamos com ela acabar.

A malvada não morreu

E ainda está vivendo.

Cortamos em pedacinhos

Com afiadas espadas.

Mas devagar, de mansinho,

Os pedaços da malvada

 

Jogados sobre a calçada,

Se mexeram e andaram,

E num todo se juntaram

Formando a bruxa atrevida

Lhe devolvendo a vida.

Já foi a bruxa queimada

Enforcada, esmagada

Mas a terrível bandida

Sempre logo volta à vida.

 

Assim o rei explicou

O que tinha acontecido.

E o anãozinho falou:

— Pois nem tudo está perdido.

Qual o nome da madama,

Como é que ela se chama?

— Angusão é o seu nome

pois só fubá ela come.

Seu corpo é feito de angu

Seu nariz é um chuchu.

— E onde mora a maldita?

Onde se esconde a bandida?

 

O rei estava espantado

Com a coragem do anãozinho

E mostrou, bem explicado,

Para o nosso amiguinho

A casa da feiticeira.

E qual a melhor maneira

De chegar na sua toca

Suja e horrível maloca.

 

E ...

Lá se foi nosso anão

Atrás da bruxa Angustão.

Não demorou encontrar

o fedorento lugar.

Lá, com muito cuidado,

Descobrindo, espiando.

Sendo muito miudinho,

Não foi por ela notado.

Ficou a bruxa assuntando,

Olhando, observando,

Pra resolver qual lado

Melhor para ser atacado.

Depois de muito pensar

Resolveu ele atacar.

Para o castelo voltou

Pediu ao rei dez soldados.

Não os queria armados.

E o rei o ajudou.

Os soldados carregavam

Montados em suas selas

Baldes, bacias, panelas

Que cheios d'água estavam.

 

Chegando bem de mansinho

Onde a bruxa se escondia

Esperaram bem quietinhos

Que se findasse o dia.

 

E os soldados grandões

Fortes, altos valentões

 

E, como por encanto,

Tudo foi se colorindo,

Os borrões foram sumindo.

 

Lá no palácio real

Reinava o carnaval

Todos dançavam contentes

Num instante, de repente,

Outra vez veio o esplendor

E muita luz, muita cor.

Todas as cores existentes

Brilhavam bem luminosas

Belas e resplandecentes

Na grande coroa do rei.

Depois, o dono da lei.

O rei assim decretou:

-— Este anãozinho querido,

Corajoso e valente,

Também muito inteligente,

Que tanto nos ajudou

Vai ser inteiro tingido.

Amigo pode dizer

Qual a cor que vai querer?

Pode escolher todas elas

Até mesmo a amarela ...

 

O anãozinho pensou

E assim ele falou:

— Quero os sapatos marrons

Como gostosos bombons.

Mas quero todas fivelas

 

Como ouro, amarelas.

Bem azul, da cor do céu,

Quero este meu chapéu.

Minhas meias bem listradas ...

muco ... Vermelha ... Azuladas ...

Verde quero minhas calças

Meu cinto, de cor vermelha

Brilhando como centelha ...

A camisa cor de canela

Combinando com as fivelas.

 

Foi assim que o anãozinho

Ganhou todos os matizes

Pois tornara o amiguinho

Todos contentes felizes.

Pediu pele cor-de-rosa

Pois achava a  cor formosa

As bochechas vermelhinhas

Lustrosas e coradinhas

Os olhos da cor do céu

Os cabelos cor de mel.

 

E voltou pro seu país

Satisfeito e feliz.

Pra voltar foi ajudado

Pelos valentes soldados.

Por muitos perigos passou

Mas em casa, enfim, chegou.

E foi sempre muito amado,

Sempre muito admirado

Tingido de muitas cores

 

Do capim, do céu, das flores.

Nunca mais foi rejeitado

E viveu cheio de glória

Contando sua história.

 

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